segunda-feira, 27 de julho de 2020

Museu da Empatia: Ainda sou Larissa




O presente relato foi elaborado como parte de uma atividade relativa ao Museu da Empatia. A ideia desta atividade interativa é calçar o sapato do outro, isso pode ser literal, ou não. Nos museus ao redor do mundo é disponibilizada ao visitante uma caixa de sapatos e um fone de ouvido, para que possa ouvir diferentes narrativas de diferentes pessoas. 


Empatia é diferente de simpatia, muitas vezes sentimos mais aquilo que já vivemos, que já conhecemos, isso é simpatia. A empatia se trata de entender a dor do outro, o mundo do outro, a forma de ser e pensar do outro, que é diferente da nossa. 


O museu da empatia começou originalmente em Londres, em 2015 e chegou em São Paulo em 2017. É um espaço de experiências. 





A presente história teve a participação de Helena Palavro Basso, Caroline Flores Zanin, Marina Lagunas, Com narração de Mylena Maino e organização da professora Sandra Giacomini


Deixo como alerta: esta narrativa contem gatilhos que podem deixar algumas pessoas desconfortáveis (mais do que é a intenção), se você for uma destas pessoas, não entre na experiência.


Aviso responsável: esta narrativa contem gatilhos que podem deixar algumas pessoas desconfortáveis

Clique no Player para ouvir:


Narrativa estendida: 





Ainda sou Larissa

Meu nome é Larissa. Tenho 7 anos, as pessoas dizem que pareço menor, mas eu me sinto mais velha. Minha primeira lembrança é estar na rua com minha mãe e as pessoas estarem passando por nós como se fossemos invisíveis. Minha primeira emoção é salgada, é tristeza.
Nós temos uma casa, moro com meu pai e minha mãe, nossa casa é pequena, de madeira, descuidada em um bairro cheio de casas pequenas, de madeira, amontoadas e tão descuidadas quanto a nossa, com muitas coisas na frente das casas, meu vizinho tem um carro, o carro não tem rodas, nem motor, e dentro dele também não tem nada, mas está lá, sempre lá, um carro cor vinho, meio enferrujado na frente da casa do meu vizinho... Nós nem isso temos, caminhamos sempre, passa um ônibus aqui perto, mas nunca pegamos, minha mãe diz que não temos dinheiro pra pegar o ônibus.
Vamos para o centro da cidade todos os dias, vou junto com a minha mãe, ela pede dinheiro para as pessoas, ela diz que é para comprar leite para mim, eu nunca falo nada, muitos tem pena de mim e dão moedas para minha mãe, outros passam reto por nós, não olham pra nós, somos parte da paisagem, com nossas roupas velhas, gastas, até mesmo sujas. Enquanto isso meu pai vende algodão doce na praça, eu nunca como algodão doce. Meus pés doem de tanto caminhar, mas já estou acostumada, não gosto dessas pessoas me dando moedas, mas preciso ajudar minha mãe.
Ao voltarmos para casa passamos por um mercado, é sempre o mesmo mercado, ele é grande, com as prateleiras cheias de comidas que nunca comi, e minha mãe compra a cerveja para o meu pai, quantas latas der pra comprar com o dinheiro que as pessoas deram pra ela comprar comida pra mim durante o dia, às vezes eu pedia pra comprar um iogurte, mas nunca sobrava do dinheiro da cerveja, e se minha mãe não levasse pra casa a cerveja que meu pai pediu ele batia muito nela, eu não gosto quando isso acontece.
Às vezes tem cerveja e mesmo assim ele bate nela, não entendo porque isso acontece, ela é tão boa, será que a culpa é minha? Por eu não ser uma boa filha?
Eu vou pra escola às vezes, mas eu sou burra, não entendo o que a professora fala, não consigo acompanhar meus colegas, tenho muito sono durante as aulas, minha barriga ronca, mas não consigo comer direito na hora do recreio, não tenho muitos amigos na escola, é difícil ler, os colegas riem de mim porque não sei matemática, mas é melhor não saber contar, se for pra contar quantas latas de cerveja meu pai bebe durante o dia.
Quando minha mãe vai pagar a cerveja as pessoas que trabalham no mercado sempre me dão balas, e elogiam quando eu estou com o uniforme da escola, eles sabem que não é o suficiente, mas eu sei que é tudo que eles podem fazer por mim, mesmo que ainda olhem para minha mãe de um jeito estranho.
Um dia minha mãe foi sozinha até o mercado e me deixou em casa com uns amigos dela, ela foi comprar mais cerveja, eles estavam todos bebendo lá em casa, eu fiquei com medo, me senti estranha, queria que minha mãe voltasse logo, ela não poderia fazer muita coisa, ficaria estranha junto comigo, mas pelo menos ela estaria lá, do meu lado.
Eu gosto dos meus pais, meu pai e legal antes de beber, antes de beber ele não grita comigo, antes de beber ele não quebra as coisas de casa, antes de beber ele não obriga minha mãe a fazer sexo, antes de beber ele não deixa minha mãe roxa e desmaiada no canto do quarto...
Sou muito castigada, fico trancada às vezes. Eu nem sei porque sou castigada... Uma vez fui castigada porque uma mulher foi lá em casa, ela era “alguma coisa” social, não sei direito, mas ela conversou com os meus pais e disse que ela ia me levar embora se eu não fosse pra um médico que tem lá no posto. Eu não gosto de médicos, mas também não gostaria de ficar longe dos meus pais. Eu não falei nada quando a mulher tentou conversar comigo, só balancei a cabeça para as perguntas dela e segurei o choro, porque se eu chorasse seria pior...
Então depois que a mulher foi embora, meu pai bebeu mais algumas cervejas e me trancou no banheiro, gritando muito, escutei minha mãe gritando também, e depois chorando. Ela quase nunca grita, ela sabe que se ela gritar é pior... Minha mãe é frágil, e meu pai é muito maior que ela... Naquele dia fiquei sem jantar e dormi no chão do banheiro, acordei na manhã seguinte com os olhos inchados de chorar, meu pai deixou que eu tomasse banho porque deveria ir à escola, faziam vários dias que eu não ia a escola. Não tinha café da manhã.
Meu pai ficou irritado porque na tarde que minha mãe me levasse para o médico, a cada duas semanas, seria um dia a menos sem ir pedir dinheiro, menos cerveja pra ele. E agora eu não poderia mais faltar na escola também, porque a moça do “alguma coisa” social poderia voltar lá pra casa e deixar meu pai bravo de novo. Ele também ficou com medo que eu falasse alguma coisa errada pro médico, ou pra professora, mas eu não gosto de falar, eu sei que se eu falar, é pior... Eu não quero que ele me bata como ele bate na minha mãe. E adultos não são legais, porque eu falaria com eles?
Tem várias coisas que eu queria, eu queria uma boneca e um celular, mas não posso ter nada disso, eu tinha um velho urso de pelúcia, amarelo, mas bem encardido, tinha, porque não sei onde ele está, um dia cheguei em casa e ele não estava mais lá, meu pai disse que eu já estava crescida mesmo, não precisava mais daquela “porcaria”, mas sinto falta do Luts, agora não tenho o que abraçar pra me acalmar quando o barulho da casa está muito alto, seja pelas brigas ou pelos amigos dos meus pais conversando e bebendo na sala.
Temos uma TV, mas eu não posso chegar perto dela pra não quebrar, meu pai diz que custou o dinheiro de muitas cervejas, ele comprou de um cara que passou lá na rua e ofereceu pra ele, depois comprou alguns fios de um outro cara e colocou ela pra funcionar. Mas ele só liga de vez em quando pra assistir futebol, ou alguns filmes que não entendo, muito barulhentos, como os barulhos que meus vizinhos fazem a noite, porque se escuta através das paredes, ou os barulhos que vem antes da morte de alguém aqui do bairro e as sirenes. Eu sei o que é morte, porque já vi acontecendo e também sei o que é sexo, porque sei. Já vi um vizinho meu levar tiro, o sangue era bem vermelho.
Não sou filha única, meu irmão mais velho desapareceu há muito tempo, as pessoas da vizinhança comentam que foi por causa do crack, mas não sei o que é isso, acho que ele virou jogador de futebol, um craque! Lembro muito pouco dele. E meu irmão mais novo morreu antes mesmo de nascer, porque meu pai matou ele quando bateu na minha mãe.
Uma noite estavam os amigos do meu pai aqui em casa, eu fui dormir, mas estava bastante barulhento, eles falam muito alto quando estão bêbados, um dos amigos do meu pai deitou na minha cama, me abraçou e me tocou, eu não gosto disso, me machuca, eu queria gritar, eu queria correr, mas eu sei que se eu fizer isso é pior...
Não consigo lembrar direito o que aconteceu depois, mas tenho quase certeza que meu pai estava na porta do quarto, acho que ele estava me castigando de novo e mandou o amigo dele me machucar, porque ele não fez nada, eu quase gritei, mas o amigo do meu pai colocou a mão na minha boca, não consegui segurar o choro dessa vez. Chorei baixinho pra não irritar mais ele. Mas nas vezes que aconteceu de novo eu consegui não chorar.
Mesmo assim não sou uma boa filha porque rodei de série na escola esse ano, meu pai ficou muito bravo e me deu um tapa, doeu muito. Naquela semana eu tinha médico e ele viu que eu estava machucada, mesmo sem eu dizer nada a mulher do social veio lá em casa de novo e me levou embora, fiquei alguns meses num lugar chamado abrigo, lá eu tinha brinquedos, roupas limpas e podia comer, tinha outras crianças lá, e mais médicos. Mesmo sendo um lugar bom, sentia falta da minha mãe. Um tempo depois ela foi me buscar, as tias do abrigo disseram que meu pai não poderia beber mais, ele fez isso por algumas semanas, mas acho que ele não consegue viver sem beber, ele fica bem triste quando não pode tomar cerveja e logo minha mãe voltou a comprar a cerveja dele e retornamos a rotina antiga, os amigos que vinham lá em casa agora eram outros, mas mesmo assim eu tinha medo que algum deles me machucasse, muitas noites me escondi embaixo da cama, mas parei de fazer isso depois que encontrei um rato lá e no susto bati a cabeça.
Muitas vezes faltava agua lá em casa, uma noite estava com tanta cede que bebi um pouco da cerveja do meu pai, ele não notou, porque já estava dormindo de bêbado, fiquei com medo de ficar igual a ele e bater nas pessoas, mas achei aquilo muito ruim, não entendo porque ele gosta tanto, mas naquela noite dormi bem.

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Ainda sou Larissa, tenho 17 anos. No caminho encontrei muitas professoras que tentaram realmente me ensinar as coisas que eu não entendia, graças a elas consegui terminar o primeiro grau, mas ali abandonei os estudos, não quis entrar no segundo grau, escola não é lugar pra mim. Professora Ana e Professora Clarisse foram as que mais se esforçaram, mas sou um caso perdido... Meus pais também não tiveram estudo, nenhum deles nem terminou o primeiro grau, e ainda estão ai, vivendo. Cheguei mais longe que eles.
Hoje moro em uma vila muito parecida com aquela que morava com meus pais, fica do outro lado da cidade, mas hoje moro com meu namorado Luan e meu filho Caio, que tem um ano. O Irmão do Luan também mora com a gente, o Cauã.
Ainda não tenho nada, há pouco tempo o Cauã me deu um celular, mas eu sei que ele roubou, tinham várias fotos da dona salvas nele, eu queria devolver, mas o Luan brigou comigo, gritou comigo e me disse pra não ser mal agradecida, porque gente como a gente só consegue as coisas assim. Nesse dia o Luan me bateu pela primeira vez depois que o Caio nasceu, ele batia antes também, mas tinha parado. Mesmo assim gritava muito comigo, me chamava de imbecil e dizia que o Caio não deveria ser dele, e puxava meu cabelo. Mas eu sei que ele me ama, é assim que as coisas são, meus pais também eram assim.
Eu queria um emprego pra poder comprar coisas melhores pro Caio e comprar meu próprio celular, mas está muito difícil conseguir emprego, até pra ajuntar lixo na rua as empresa tão pedindo estudo, mas eu já desisti de estuda... E também tenho filho pequeno e não tenho onde deixar. Cauã chego em casa hoje, ele tava drogado, Luan não tava e o Caio ficou chorando enquanto ele me pegava. Quando Luan chegou ele bateu em mim, mas não fez nada com Cauã. O Caio chora muito, e o Luan também não tem paciência pra ele, ele trancou nós dois no quarto dos fundos, começamos a dormir assim, eu lá com o Caio, e Luan só aparecia de noite quando queria que eu desse pra ele, na maioria das vezes não tava a fim, mas ele me dizia que era minha obrigação por ser a namorada dele, então eu deixava, porque ele dizia também que se eu não queria ele ia procurar quem quisesse.
Caio dormia no canto do travesseiro, e eu dizia pra Luan não fazer barulho porque ia acordar ele. Mesmo assim ele pegava outras meninas, algumas noites eu tava trancada no quartinho com Caio e ouvia no quarto do lado, voz de mulher com ele. Eu queria sair daqui às vezes, mas não tenho pra onde ir, eu gosto do Luan, e até acho que vou ter outro filho, faz tempo que minha menstruação não desse.
Uma tarde Caio estava estranho, parecia doente, estava quente e não acordava. Eu chorei, briguei com Luan até ele conseguir um amigo que tivesse um carro pra levar a gente pro hospital, lá o médico examinou Caio, fez soro, me disse o que ele tinha, mas eu não entendi, e mandou comprar remédio, além de brigar comigo porque Caio não tinha as consultas dele em dia, e faltavam algumas vacinas.
Na frente do Hospital mesmo, Luan brigou comigo, porque ele não queria comprar remédio, porque remédio era caro, Caio tava no meu colo e quando Luan me puxou o cabelo quase deixei Caio cair. Nisso uma dona chamou a polícia, mas eu não tinha o que dizer, Luan disse que estava tudo bem e eu concordei.
Voltamos pra casa e evitei que ele me batesse aquela noite dizendo que estava grávida, ele me deu um tapa e ficou muito bravo, era mais uma despesa vindo, ele ficou algumas semanas sem me procurar, uma noite, tomei minha decisão e disse que queria sair dali, ia pra casa dos meus pais ou ia achar alguma coisa, mas eu e Caio sairíamos dali. Quando ele entrou no meu quarto aquela noite pra transar ele tava meio alterado, acho que era cachaça, pelo cheiro, deixei ele transar. Depois falei pra ele que queria sair, ele nem esperou eu terminar e começou a me bater, disse que eu não ia sair dali, que eu era dele, que eu não era nada sem ele, e me bateu como nunca antes, até eu desmaiar. Lembro de Caio chorando, mas eu não tinha força pra ver ele, Luan quase me matou e acho que era a intenção.
Acordei um tempo depois, tudo doía, Caio já tinha desistido de chorar e dormia, mas minha porta estava aberta, acho que era minha chance, era cedo, uma manhã antes do sol nascer, escutei barulho no quarto do lado, Luan tava ocupado com alguma vagabunda, peguei tudo que conseguia ajuntar, peguei Caio tentando não acordar ele, ainda tinha muita dor, sai pela porta da frente em silêncio, esperando não encontrar Cauã pelo caminho, mas ele ainda não tinha voltado pra casa. E caminhei me arrastando pela rua, sem destino algum. Mas no momento que sai de lá percebi que eu não era minha mãe, por isso também não podia voltar pra lá.
Não queria, mas tinha que ir no hospital, comecei a sentir dor na barriga, Luan tinha me batido e eu tava grávida, caminhei uns 4 km até chegar no hospital, quase desmaiando, não tinha comido nada, eu tava toda roxa e inchada, o médico me examinou, disse que tava tudo bem com o bebê, e que eu tava com HIV e ia precisar de tratamento. Mas dessa vez tive que contar o que aconteceu, chamaram a polícia de novo e a mulher que agora sei que é assistente social, não quis denunciar, mas disse que não tinham onde ir, eu sabia que denunciar não resolvia nada, era pior... 
Me levaram pra um abrigo, parecido com aquele que eu fiquei quando eu era criança, mas nesse tinham outras mulheres com seus filhos. E uma mulher lá do abrigo, a psicóloga, me disse que ali era um lugar pra recomeçar, não entendi direito, mas recomecei mesmo assim.

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Ainda sou Larissa, tenho 27 anos. Hoje estou estudando Serviço Social, estou na faculdade e dentro de dois anos me formo e vou ser Assistente Social. Quero ajudar outras meninas como eu, da forma como as pessoas me ajudaram. No abrigo me incentivaram a voltar a estudar, eu fiz a educação de jovens e adultos (EJA) e terminei o segundo grau, e estudei mais um pouco além das aulas, eu queria aprender, eu tinha um propósito.
Com o segundo grau completo consegui um emprego no comércio da cidade, também consegui uma bolsa pra faculdade, tudo isso enquanto cuidava do Caio e da Letícia, que nasceu bem. Eu ainda trato meu HIV, mas se eu tomar os remédios certinho e ir pro médico não tenho problemas.
Conheci Rafael na faculdade, ele era do curso de Administração e já se formou, hoje moro com Rafael, Caio e Letícia, ainda trabalho no comercio e faço os estágios da faculdade e trabalhos voluntários no abrigo que me acolheu quando fugi de Luan. Luan tentou me importunar mais algumas vezes, mas ele ia ser preso se se aproximasse muito de mim ou das crianças.
Fiquei sabendo que Cauã foi assassinado em casa no ano passado, ele fez dividas com drogas. Mas agora aprendi na faculdade que é possível salvar Larissas, também é possível salvar Cauãs e Luans.
Primeiro com Caio e com Letícia e depois com Rafael eu descobri o que é amor, e amor não é o que eu tinha com Luan, também não é o que meus pais tinham, ambos já morreram, e por mais que tenham sido péssimos, hoje eu sei que foram, eu chorei muito quando me despedi deles.
Rafael me respeita, e isso é amor. É um homem carinhoso, que nunca ergueu a mão pra mim e nunca gritou comigo e nunca me fez sentir diminuída ou inútil. Ele gosta dos meus filhos e cuida muito bem deles, eles o chama de pai. Hoje posso dizer que sou feliz.
Quero que você saiba que eu sou a exceção, não a regra, tem muitas Larissas por ai, de 7, 17, 27, 37, 47 anos precisando de ajuda.



A Larissa de 7 anos é baseada em uma história real. A Larissa de 17 anos é baseada em outra história real. E a Larissa de 27 anos é uma história que gostaríamos que fosse real.






2019-