quarta-feira, 9 de junho de 2021

A Preparação Psicológica de Pacientes Pediátricos





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De acordo com Nascimento et. al. (2007) o conceito de infância é tanto cultural quanto biológico. “A palavra infância evoca um período que se inicia com o nascimento e termina com a puberdade” (Andrade, 2010, p.53). A criança é visa como um ser em desenvolvimento, aonde o crescimento se dá em uma sucessão de fases cognitivas e psicológicas (Nascimento et. al., 2007). Santos e Lauro (2003) defendem que as infâncias são várias, pois depende da criança, do seu contexto, desenvolvimento, subjetividade e aprendizado. A infância é um período onde a construção do ser é mais evidente do que em outras etapas da vida, sendo de grande desenvolvimento motor, emocional, social, intelectual, etc. Aonde também se destaca a apropriação que a criança faz do mundo através do brincar.



Globalmente e por muito tempo as crianças eram levadas às salas de cirurgia sem terem consciência do que aconteceria com elas, pensava-se que seria melhor não gerar ansiedade e medo antecipado na criança, da mesma forma que acreditava-se também ser melhor não discutir com elas sobre a experiência que haviam passado após a cirurgia, pois acreditava-se que esqueceriam rapidamente. A mesma autora coloca que posteriormente, após a realização de pesquisas e estudos foi garantido o direito da criança de saber a verdade sobre sua realidade e as experiências que enfrentaria em cirurgia (Huerta, 1996). 



Muitas vezes não existe a preocupação de tentar explicar para a criança o que está acontecendo, sendo que diversos problemas advém desta falta de explicação sobre o que está ocorrendo e o motivo dos exames realizados e medicamentos aplicados.

A internação e o processo cirúrgico não envolvem apenas aspectos biológicos e psíquicos, mas também sociais – e assim, o profissional que está oferecendo acolhimento para o paciente pediátrico deve estar ciente da integralidade do ser. Uma criança em idade escolar, por exemplo, ao ser privada do convívio com seus pares, irá sofrer muito mais com a hospitalização do que a criança que não possuía o hábito do convívio social.




De modo geral, recomenda-se os seguintes métodos:

• crianças até 1,5 - 2 anos: preparar suas mães;

• crianças de 2 a 4 anos: dramatizar os aspectos mais relevantes do procedimento, tais como: pessoas usando avental, máscara e gorro; a anestesia é um "cheirinho" ou "um remédio para você dormir e não sentir dor"; acordar junto aos pais, etc.

• crianças de 4 a 6 anos e escolares iniciantes: utilizar amplamente o "brinquedo de dramatização";

• escolares maiores: explanação com auxilio de desenhos sobre o quê acontecerá e porquê; permitir escolhas possíveis como o local de aplicação do pré-anestésico; permitir privacidade para o banho e para se vestir para o C.C.;

• adolescentes: fornecer o máximo de informação de acordo com suas necessidades, considerando suas preocupações com sua imagem corporal e sua integridade; permitir escolhas possíveis e privacidade para o banho e para se vestir para o C.C.; a permanência dos pais dependerá da escolha do adolescente






Características Particulares Da Pediatria

→Ao realizar atendimentos para o público infantil, é fundamental que o profissional não negligencie a influência familiar no processo terapêutico.

→Para Huerta (1996), é necessário que exista um preparo com a família da criança, pois é esta quem presta o cuidado e representa a rede de proteção e apoio ao indivíduo. Uma família preparada pelos agentes de saúde certamente terá maiores condições de auxiliar a criança a enfrentar a experiência da hospitalização.

→Os pais ou responsáveis pela criança devem ter este espaço de fala e apoio individual, já que o adoecimento de um ente próximo estremece toda a estrutura familiar.





A ocultação de informações e a mentira sobre o procedimento médico ou sua finalidade estão diretamente ligadas aos sintomas emocionais posteriores.

Em contrapartida, a criança que foi adequadamente preparada apresenta uma diminuição no potencial traumático da situação, diminuindo consequentemente os sintomas emocionais posteriores.

Muitas vezes não existe a preocupação de tentar explicar para a criança o que está acontecendo, sendo que diversos problemas advém desta falta de explicação sobre o que está ocorrendo e o motivo dos exames realizados e medicamentos aplicados.





Na tentativa de tornar o ambiente hospitalar mais humano, pode-se estimular a família a trazer os objetos preferidos da criança, auxiliando-a a manter o vínculo com seu lar.

Para Mesquita et. al.(2013), faz-se necessário preservar, ainda que no hospital, as características do universo infantil.

É nosso dever assegurar a garantia do direito da criança (saber sobre a sua condição; ter entendimento sobre o que enfrentará durante a intervenção médica; etc.).



De acordo com Huerta (1996), devem ser oferecidas para a criança explicações honestas, diretas e simples, de acordo com o seu nível de desenvolvimento. Torna-se importante ressaltar que o procedimento médico inclui o período pré, durante e pós – sendo necessário preparar o paciente para os cuidados posteriores, como curativos, a medicação, retirada de pontos, coleta de exames, infusões intravenosas, etc.







“Um dos objetivos do preparo é ajudar a criança a enfrentar da maneira mais sadia possível aquilo que não pode ser evitado, e o resultado, eminentemente individual, é uma reação de medo adequada à realidade da experiência, isto é, uma reação diferente do pânico e da negação, pois ambos implicam na perda de contato com a realidade” (Huerta, 1996, p.351)




A Preparação Psicológica da Criança Hospitalizada para Procedimentos Médicos




Preparação de crianças hospitalizadas para procedimentos médicos:

O que o psicólogo pode fazer?


 

INTRODUÇÃO

 

O presente relatório trata-se de uma revisão de literatura que tem por objetivo explanar os aspectos acerca da internação pediátrica e da preparação da criança para procedimentos médicos. Em meio ao período de descoberta do mundo, a criança se depara com a doença, o que Segundo Calvetti e Cols. (2008), não é previsto e nem planejado para sua vida, ocorrendo assim, uma interrupção em seu desenvolvimento.

Mesquita e Cols. (2013) colocam que a infância é um período de grande desenvolvimento físico e psíquico. A criança ainda está construindo seu repertório de experiências, precisando de apoio para enfrentar os possíveis efeitos negativos que podem advir de eventos traumáticos, assim como a insegurança, o medo e a ansiedade decorrentes de uma hospitalização. Segundo Calvetti e Cols. (2008) a doença altera a rotina dos pacientes, privando-os do lazer e do convívio com família e amigos. A experiência do adoecimento é singular a cada sujeito. Cada pessoa vive sua dor de forma única.

De acordo com Calvetti e Cols. (2008) faz-se importante ouvir o sujeito que está enfermo, fragilizado e hospitalizado, sendo o profissional afetivo e buscando acolher o paciente em sua totalidade. É comum que familiares e profissionais minimizem ou desconsiderem as percepções e sentimentos da pessoa hospitalizada, tais atitudes podem contribuir para a insegurança e instabilidade do paciente. É importante adotar uma postura cuidadosa com a criança, estando ciente que este paciente possui desejos e sentimentos a serem expressos em seu processo de hospitalização. O profissional precisa compreender sobre o desenvolvimento humano da criança, tendo uma visão ampliada, e não somente centrada na doença. É necessário garantir o direito a confidencialidade e privacidade. Tendo uma atitude de respeito pela autonomia da criança e responsabilidade na atenção à sua saúde. Sendo comum à criança hospitalizada ter seu espaço e intimidade invadidos pela equipe, que se tratam de pessoas desconhecidas para ela. Quando a criança se sente ouvida e valorizada, tende a expressar suas dificuldades relacionadas à hospitalização e à enfermidade, o que auxilia em seu processo de recuperação. A criança tende a expressar o medo por ficar sozinha, por perder ou se afastar dos pais, por não voltar para casa, ou não ter mais seus amigos e brinquedos.

 

DESENVOLVIMENTO

 

De acordo com Huerta (1996) qualquer intervenção cirúrgica representa uma situação critica que gera uma crise vital no indivíduo. Globalmente e por muito tempo as crianças eram levadas às salas de cirurgia sem terem consciência do que aconteceria com elas, pensava-se que seria melhor não gerar ansiedade e medo antecipado na criança, da mesma forma que acreditava-se também ser melhor não discutir com elas sobre a experiência que haviam passado após a cirurgia, pois acreditava-se que esqueceriam rapidamente. A mesma autora coloca que posteriormente, após a realização de pesquisas e estudos foi garantido o direito da criança de saber a verdade sobre sua realidade e as experiências que enfrentaria em cirurgia.

Huerta (1996) alerta que na maioria dos casos oculta-se dos pacientes informações sobre os procedimentos aos quais serão submetidos. As crianças hospitalizadas, também são enganadas, tanto pela equipe de saúde quanto pelos pais quanto aos procedimentos e seus propósitos. Acredita-se que o receio de não saber lidar com as possíveis reações da criança faça com que pais e equipe optem por omitir, ocultar informações ou mentir sobre o real estado da criança e sobre os procedimentos aos quais será submetida. Huerta (1996) coloca que a criança que não foi preparada corretamente pode desenvolver fobias, pesadelos, insônia, enurese, medo de pessoas vestidas de branco, agressividade, etc. Também pode perceber a experiência como um ataque hostil, como uma violência ou abuso, o que pode levá-la a perder a confiança nos adultos, especialmente nos mais significativos em sua vida, como seus pais, tal confiança é essencial para um desenvolvimento emocional saudável. A ocultação de informações e a mentira sobre o procedimento médico ou sua finalidade estão diretamente ligadas aos sintomas emocionais posteriores. Em contrapartida, a criança que foi adequadamente preparada diminui o potencial traumático da situação, diminuindo os sintomas emocionais além de reduzir o medo.

Ainda segundo Huerta (1996), ao preparar uma criança para este tipo de situação é necessário estar atento a idade da criança e seu desenvolvimento da compreensão. Além de avaliar as características individuais da criança, como por exemplo, se já teve experiências anteriores de hospitalizações, cirurgias e outras intervenções médicas e como foram, ou o que representaram estas experiências. Também é interessante verificar se algo mais de significativo está ocorrendo na vida da criança naquele momento, como entrada na escola, nascimento de irmãos, falecimento de entes queridos ou animais de estimação, etc. É essencial também conhecer o tipo de procedimento pelo qual a criança vai passar, além de avaliar a percepção tanto da criança quanto de seus pais sobre a situação atual e verificar a possibilidade de a mãe ou outro adulto significativo permanecer no hospital com a criança, sendo acompanhante ou participante ativo de seus cuidados. Huerta (1996) coloca que quando a internação é prevista, pode ser feita uma visita hospitalar prévia, o que é benéfico tanto para a criança quanto para os pais. Nas crianças muito pequenas é necessário preparar as mães, para que possam lhes dar o suporte necessário, sendo possível a internação antecipada e a presença constante da mãe. “Mães confiantes e emocionalmente fortalecidas vão poder comunicar esta confiança a seus bebês e filhos pequenos” (p.347).

Huerta (1996) expõem que é necessário também preparar a família da criança, pois é esta quem presta o cuidado e representa a proteção e o apoio do indivíduo. Uma família melhor preparada terá mais condições de auxiliar a criança a enfrentar essa experiência. Huerta (1996) ainda expõem que os pais se beneficiam em acompanhar o preparo da criança, entretanto devem também ser preparados separadamente para que possam expressar seus sentimentos e dúvidas, além de solicitar informações adicionais, já que seu nível de compreensão é diferente do da criança. De acordo com Calvetti e Cols. (2008) é importante ouvir os familiares e esclarecê-los sobre suas dúvidas, acolhendo suas dificuldades e buscando o fortalecimento da estrutura familiar. Os familiares representam uma importante força afetiva, capaz de favorecer a recuperação do paciente.

 Segundo Santos e Cols. (2013) a hospitalização também traz efeitos às famílias, como estresse, mudanças no cotidiano, dúvidas e insegurança, esperança, conflitos, etc. Pode ocorrer uma desestruturação temporária da família em decorrência da hospitalização da criança. De acordo com Kumamoto e Cols. (2004), deve-se trabalhar com os pais, observando o estresse situacional, a dinâmica conjugal e, se necessário, oferecendo psicoterapia. Os pais ou responsáveis pela criança devem ter um espaço de fala e apoio individual, já que o adoecimento de uma criança estremece toda a estrutura familiar.

De acordo com Souza e Cols. (2008) os pais têm um papel importante no preparo da criança para hospitalização e intervenções que possam ocorrer. Muitas vezes não existe a preocupação de tentar explicar para a criança o que está acontecendo, sendo que diversos problemas advém desta falta de explicação sobre o que esta ocorrendo e o motivo dos exames realizados e medicamentos aplicados. Os pais são as pessoas mais significativas para a criança, portanto é importante que a criança os sinta seguros e receba explicações destes. Sendo que os pais devem também preparar-se, controlar seus sentimentos diante da doença do filho, e, considerando a idade da criança e seu nível de entendimento, não devem tentar mascarar a situação, entretanto, aspectos julgados irrelevantes podem ser omitidos.

Santos e Cols. (2013) colocam que no momento em que a criança é internada ela deixa a segurança de seu lar. A criança tem medo do desconhecido, da dor, da anestesia, da morte e de ficar desfigurada ou incapacitada, especialmente aquela que é incapaz de compreender o propósito da hospitalização e as experiências as quais será submetida, pode sofrer alterações psicológicas como pesadelos, enurese, agressividade e mal humor. A falta ou até mesmo a omissão de informações sobre os procedimentos a serem realizados com a criança trazem efeitos negativos. De acordo com Castro (2007) o impacto da hospitalização e enfermidade sobre a criança dependerá “da duração, da sintomatologia, da gravidade, da visibilidade da doença, dos tipos de intervenções médicas que requer, das características da criança e das relações familiares” (p.401). O processo de hospitalização pode gerar consequências imediatas para algumas crianças, como mudança de comportamentos, pesadelos e medo de separar-se de seus pais.

Segundo Kumamoto e Cols. (2004) no passado, a criança hospitalizada era separada de sua família, o que poderia desencadear distúrbios emocionais em graus variados, após ter-se chegado a esta conclusão foi feita uma mudança significativa que promovia o envolvimento das famílias nos cuidados da criança internada, dando a garantia do direito de ter um acompanhante durante todo o tempo de sua internação. Mesquita e Cols. (2013) expõem que é necessário estar atento ao desenvolvimento físico e mental da criança no processo de hospitalização, sendo importante a atenção as variáveis psicológicas da criança hospitalizada, bem como da família, com objetivo de prevenir transtornos que possam comprometer o desenvolvimento da criança ou agravar seu quadro clinico. De acordo com Calvetti e Cols. (2008) há ainda um agravante quando a criança se encontra na Unidade de terapia Intensiva (UTI), pois aqui a criança não pode se deslocar, está isolada, com horários de visita curtos e sujeita a inúmeros procedimentos e aparelhos. A UTI também carece de uma atenção efetiva para o cuidado do paciente com uma equipe multidisciplinar.

Durante a internação as crianças sofrem uma série de transformações psicológicas. Elas chegam ao hospital com uma visão de si e do mundo, a qual é modificada a partir das experiências vividas nesse contexto. Na maioria das vezes essas crianças passam por um processo de despersonalização, elas são obrigadas a cumprirem a rotina hospitalar, que as padroniza, vestindo-as iguais, estipulando rigorosos horários de visitas, banho, alimentação, etc. Além de desenvolver uma insegurança em relação ao ambiente, se a criança apresentar ou sofrer alguma desfiguração física esse quadro tende a se agravar, pois ela também pode desenvolver uma insegurança em relação à família, ao tratamento e à equipe hospitalar (Souza e Cols., 2008, p.5).

Calvetti e Cols. (2008) colocam que a criança vê o hospital como um ambiente desconhecido e restrito de possibilidades de atividades como o brincar. Representando solidão, tristeza e saudades de casam da família, dos amigos, dos colegas e da escola. Segundo Kumamoto e Cols. (2004) o afastamento da família e da escola e também o complicado e desconhecido ambiente hospitalar pode levar a criança a experimentar uma sensação de desamparo, apresentando reações como: atitudes regressivas, fobias, transtornos comportamentais inadaptativos, etc.

Todos os procedimentos a serem realizadas precisam ser explicados para a criança, com objetivo de amenizar seus medos e as fantasias que tem diante do ambiente e das situações desconhecidas. Passando muitas vezes por procedimentos invasivos que não respeitam a intimidade da criança. Também pode-se estimular a família a trazer os objetos preferidos da criança, como brinquedos, na tentativa de auxiliá-la a manter o vínculo com seu lar, e assim tornando o ambiente hospitalar mais humanizado e familiar (Calvetti e Cols., 2008). Segundo Huerta (1996) devido a seu desenvolvimento estar ainda em maturação, a criança apresenta recursos limitados para enfrentar situações dolorosas ou desconhecidas, recorrendo geralmente à fantasia para superar o medo, a frustração e a dor, pois ainda está construindo seu raciocínio lógico, o que torna difícil considerar razões reais para a experiência. Tal fato faz com que a criança possa interpretar de forma errônea os procedimentos dolorosos e invasivos aos quais é submetida, podendo interpretá-los como castigo ou punição e assim sentir-se culpada. Huerta (1996, p.342) coloca que:

Torna-se então necessário proporcionar à criança recursos que lhe facilitem a percepção da realidade da experiência e de seu propósito, bem como dar-lhe o apoio que lhe permita expressar em segurança e de acordo com seu nível de desenvolvimento, as emoções decorrentes da mesma. Quando a criança compreende a verdadeira finalidade do procedimento, ela é capaz de tolerar melhor o desconforto e a dor.

Segundo Kumamoto e Cols. (2004) há uma redução do medo quando se oferece à criança esclarecimentos e estratégias capazes de fornecer a segurança necessária para superar esta nova situação. De acordo com Huerta (1996) deve ser oferecida a criança explicações honestas, curtas e simples, de acordo com seu nível de desenvolvimento, que possam transmitir confiança no procedimento e nos resultados dele esperado. Lembrando que os procedimentos médicos incluem o antes, o durante e o depois. Sendo importante preparar também a criança para cuidados posteriores, como curativos, medicação, retirada de pontos, coletas, exames, infusões intravenosas, etc. Além de continuar a elaborar as emoções e idéias ou percepções acerca do procedimento.

Segundo Mesquita e Cols. (2013) faz-se necessário manter, mesmo no hospital, as características do universo infantil. Sendo positivo à criança poder brincar no hospital.  Kimamoto e Cols. (2004) colocam que a criança hospitalizada tem mudanças significativas em sua rotina, tendo privações afetivas, cognitivas e lúdicas que podem repercutir em sua saúde, além de ser submetida a experiências dolorosas. Neste contexto, o brincar é uma tentativa de transformar e humanizar o ambiente hospitalar, proporcionando melhores condições à criança. Calvetti e Cols. (2008) defendem que é extremamente importante possibilitar o brincar da criança e promover atividades lúdicas possíveis no ambiente hospitalar, sendo utilizado como recurso adequado para melhor adaptação da criança ao hospital.

Kumamoto e Cols. (2004) afirmam que durante a hospitalização não é saudável a privação do brincar. Jogos simbólicos e atividades lúdicas como desenho ou contação de histórias, utilização de massa de modelar ou bonecos facilitam a assimilação da realidade e compreensão da criança, auxiliando na criação de estratégias de enfrentamento frente à doença, a internação hospitalar e os procedimentos médicos. “Brincando os resultados são surpreendentes, na medida em que, enquanto brincam, as crianças conseguem exprimir seus medos, falar sobre a doença, sobre o tratamento, o hospital, a saudade da família, sobre a morte etc.” (Souza e Cols., 2008, p.9).  Por meio do brinquedo a criança se apropria da experiência dolorosa, o que permite passar de uma posição de passividade para uma posição ativa que lhe restitui a sensação de controle sobre sua vida. Mesmo doentes as crianças necessitam brincar, e assim aproveitar seus recursos para elaborar a nova situação que estão vivendo. “Através da atividade lúdica, a criança vai demonstrando ou verbalizando seus medos, dúvidas, alegrias, tristezas, raiva entre outros sentimentos, muitas vezes reprimidos e mal compreendidos por ela mesma.” (Kumamoto e Cols., 2004, p.4). O brincar funciona como ferramenta que proporciona melhores condições psicológicas à criança que está enfrentando uma hospitalização. Huerta (1996) também expressa a importância do brincar para a criança, como um meio de elaborar o que lhe está ocorrendo. Representar a experiência no brinquedo faz com que a criança passe de sujeito passivo para ativo, capaz de controlar a situação. “O brincar é a forma infantil da capacidade humana para lidar com as experiências e dominar a realidade” (p.351).

Huerta (1996) explica que é uma prática construtiva permitir que a criança manuseie e brinque com objetos que serão usados em sua intervenção, como máscara, gorro, pinça, curativo, etc. Familiarizar-se com estes objetos pode diminuir a ameaça habitualmente associada a eles. Também é positivo utilizar bonecos e objetos para a dramatização dos principais aspectos do procedimento ao qual a criança será submetida. O desenho e a contação de estórias também são técnicas benéficas na preparação da criança, permitindo que a criança desenhe e utilize técnicas menos ameaçadoras em terceira pessoa para contar a estória de uma criança e o que ela faz no hospital.

De acordo com Castro (2007) o profissional pode utilizar da brincadeira interpretativa com a criança, a fim de recriar as percepções desta acerca de suas experiências, permitindo sua expressão. Assim como os desenhos que podem ser utilizados pela criança para ilustrar suas preocupações, medos e fantasias. Kumamoto e Cols. (2004) ressaltam a necessidade de estabelecer uma comunicação terapêutica informativa entre a criança e o médico, sendo esta uma estratégia de enfrentamento da angústia, do medo e das fantasias irreais e assustadoras que a criança tem frente à hospitalização. Os autores ainda destacam a importância da visita de irmãos da criança, como um fator importante de recuperação, assim como a continuidade das atividades lúdicas e pedagógicas próprias desta etapa de desenvolvimento. Tendo como possibilidade futura a criação de “classes hospitalares” (p.7), sendo importante para o resgate dos aspectos saudáveis da criança e de sua infância, mesmo estando enferma e hospitalizada. As unidades pediátricas hospitalares deveriam desenvolver atividades lúdicas e aulas escolares, como maneira de não afastar a criança de sua infância e de seus interesses de aprendizagem e desenvolvimento, o que também contribui para que não passem todo o tempo preocupadas com sua enfermidade (Castro, 2007). Kumamoto e Cols. (2004) também exprimem que, para as crianças que ficam internadas por longos períodos também, é saudável oferecer atividades lúdicas comemorativas, a fim de esquecer um pouco a sua doença e ligarem-se com a realidade do mundo esterno ao hospital.

Huerta (1996) também expõem que é válido apresentar a criança á equipe de saúde, além de comunicar à criança sobre onde estarão seus pais enquanto ela se encontra em procedimento. Também é positivo encorajar os pais para que fiquem o maior tempo possível com as crianças, particularmente as pequenas, além de permitir que a criança tenha consigo um objeto significativo, como seu brinquedo favorito, por exemplo. Quando o procedimento requer anestesia é importante providenciar para que a criança se recupere na presença de seus pais. Também é benéfico elogiar a criança, pois ela precisa ouvir que se sabe que ela fez o melhor que podia na situação em que estava, independentemente de qual tenha sido seu comportamento.

De acordo com Huerta (1996) mesmo que o preparo adequado ofereça condições para que a criança expresse suas emoções, não é capaz de mudar imediatamente seu comportamento, sendo assim, nunca se deve esperar que a criança não chore ou reaja. A submissão reflete também falta de preparo, quando a criança ignora o que lhe espera, sendo reação de um intenso bloqueio emocional. Souza e Cols. (2008) explicam que a criança normalmente reage negativamente à hospitalização, chorando e demonstrando medo e ansiedade. Aquelas crianças que são consideradas mais fáceis de lidar, por serem obedientes e passivas exigem cuidados extras, pois pode tratar-se de uma criança que pode estar em desequilíbrio psicológico, e por tanto aceita a situação sem reclamar ou questionar.

Um dos objetivos do preparo é ajudar a criança a enfrentar da maneira mais sadia possível aquilo que não pode ser evitado e o resultado, eminentemente individual, é uma reação de medo adequada à realidade da experiência, isto é, uma reação diferente do pânico por um lado e da negação por outro, pois ambos implicam na perda de contato com a realidade (Huerta, 1996, p.351).

Mesquita e Cols. (2013) ressaltam que é um dos objetivos do psicólogo da saúde avaliar os processos psíquicos do paciente que enfrenta procedimentos médicos, buscando a promoção e recuperação do sujeito em nível “biopsicosocioespirituambiental” (p.89), podendo identificar e prevenir os possíveis problemas psicológicos causados pela hospitalização da criança. “A psicologia da saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais, influenciam na saúde e na doença” (Calvetti e Cols., 2008, p.230). De acordo com Souza e Cols. (2008) o psicólogo busca compreender os aspectos emocionais no tratamento do paciente infantil, promovendo seu desenvolvimento sadio e pleno. Este profissional, embora muitas vezes subestimado no campo da saúde, é parte fundamental de uma equipe hospitalar multidisciplinar, podendo trabalhar junto com esta equipe e respeitando os limites institucionais, é capaz de auxiliar para uma melhor qualidade de vida do sujeito hospitalizado, lembrando-se sempre que ali não está uma doença, e sim um indivíduo enfermo. Segundo Kumamoto e Cols. (2004) visa-se a promoção à saúde e o atendimento integral à criança, olhando não apenas para a ordem física, mas também psicossocial, em que o brincar insere-se como fator essencial à recuperação e desenvolvimento infantil.

A Psicologia Hospitalar, respeitando as limitações provindas da doença, tenta suprir as necessidades, não só orgânicas, mas também as que se referem ao psicológico e educacional da criança. O psicólogo trabalha para manter o equilíbrio, muitas vezes perdido durante o período de internação. Esse desequilíbrio ocorrido na criança durante a hospitalização esta diretamente ligada à retirada do convívio familiar, a privação das brincadeiras e da vida escolar, sendo obrigada a se envolver em tratamentos e relacionamentos com pessoas estranhas em situações imprevisíveis, onde se encontram bastante fragilizadas (Souza e Cols., 2008, p.3).

A tarefa da equipe de saúde ao atender uma criança hospitalizada é “proteger e favorecer seu desenvolvimento integral, e não apenas restaurar e manter sua saúde física” (Huerta, 1996, p.351). Souza e Cols. (2008) colocam que o trabalho com crianças exige do profissional sensibilidade e paciência. É importante ressaltar que o trabalho que o psicólogo pode desenvolver no contexto hospitalar, com paciente, equipe e família, depende também da estruturação pessoal do profissional, já que o psicólogo recebe sentimentos como impotência, medo, angústia, ansiedade, etc. Tendo que conviver com estes e administrá-los em seu cotidiano, sendo importante também o tratamento pessoal do profissional, pois só refletindo sobre as próprias angustias e dificuldades é possível realizar um trabalho adequado. É exigido do profissional grande habilidade comunicativa e relacional, tanto com a criança quanto com sua família, além do conhecimento acerca do desenvolvimento humano e da dinâmica daquela família. Também é importante a habilidade para trabalhar em equipes interdisciplinares (Huerta, 1996).

Sebatiani & Maia (2005) explanam que a psicologia da Saúde/Hospitalar utiliza os conhecimentos teóricos da psicologia aplicando-os nos processos de saúde e doença, internação e tratamento, aonde se relacionam pacientes, famílias e equipes. Utilizam-se técnicas e teorias a fim de atender as demandas da pessoa hospitalizada, como também os comportamentos do paciente que podem agravar seu quadro ou dificultar seu processo de recuperação. Não podendo mais os psicólogos ficar presos aos métodos tradicionais do fazer da profissão. Segundo Kumamoto e Cols. (2004) faz-se necessário refletir sobre o papel profissional do psicólogo e sobre as adaptações teóricas e praticas, tendo um afastamento dos modelos convencionais de intervenção psicoterápica a fim de permitir uma aproximação real do individuo dentro de seu contexto social e histórico, podendo estabelecer uma verdadeira relação de ajuda.

Segundo Castro (2007) a tarefa principal do profissional da psicologia dentro do contexto hospitalar é auxiliar o paciente e sua família a melhorar a qualidade de vida e o bem-estar, considerando a saúde um conceito multidimensional que abrange aspectos físicos, psicológicos, sociais, ambientais e espirituais. Calvetti e Cols. (2008) expõem que é parte do intuito do psicólogo facilitar a recuperação da criança e sua participação ativa, estimulando seu desenvolvimento afetivo, visando à qualidade de vida do paciente tendo uma visão e uma ação humanizadas ao sujeito neste ambiente.

Frente às situações relacionadas à saúde da criança e do adolescente, é fundamental uma abordagem multiprofissional que envolva também os aspectos psicológicos da criança/ adolescente e suas famílias. É necessário que os profissionais da saúde estejam sensibilizados para os aspectos que transcendem o tratamento médico, pois os resultados do tratamento e as intervenções podem ficar comprometidos se não se consideram esses aspectos (Castro, 2007, p.404).

 

CONCLUSÃO

 

De acordo com Souza e Cols. (2008) muitas vezes a equipe de saúde considera apenas o estado físico e orgânico do indivíduo, estando despreparadas em relação aos aspectos mentais e sociais que podem afetar o paciente. Kumamoto e Cols. (2004) colocam que a doença afeta a criança em todas as dimensões, corporal, afetiva, cognitiva e social. Souza e Cols. (2008) ainda exprimem que a enfermidade e a hospitalização da criança podem causar vários efeitos psicológicos negativos, como depressão, ansiedade, regressão, baixa auto-estima, negação da doença, solidão, sentimento de culpa e sensação de punição, interrupção ou atraso escolar, entre outros. Os efeitos dependem da subjetividade de cada individuo, variando também com a situação social, familiar, econômica, com a personalidade do sujeito e com o tipo de enfermidade. Na hospitalização infantil, um forte fator desencadeante destes efeitos negativos é a separação da criança de sua mãe, dependendo também da idade da criança, das atitudes da equipe, da rotina hospitalar, da duração da internação, etc. Sendo importante levar em conta a história de vida do sujeito, o contexto social, a comunidade em que habita, a estrutura familiar e financeira, além do relacionamento entre médico, paciente, família e equipe de saúde (Mesquita e Cols., 2013).

A hospitalização é, geralmente, realizada num ambiente de tensão e insegurança para crianças, adolescentes e seus acompanhantes, podendo acarretar outras situações desagradáveis em sua rotina, tais como: novos horários, exames dolorosos, afastamento do ambiente familiar, abandono das atividades escolares, falta de estímulo social, dentre outras alterações no cotidiano das crianças e de seus familiares. Essas modificações podem ocasionar agitação, gritos, choros, retrocessos, regressão, depressão, ausência no controle dos esfíncteres, entre outros (Santos e Cols., 2013, p. 46).

De acordo com Mesquita e Cols. (2013) o conceito de saúde é multidimencional, considerando os aspectos biológicos, psicológicos, sociais, espirituais e ambientais do sujeito. Sendo necessário ao psicólogo estar atento e treinado para lidar com situações complexas, que envolvem o bem estar da criança, mas também de todos que a rodeiam. Tendo enfoque interdisciplinar, trabalhando de forma integrada com os demais profissionais da saúde, a fim de proporcionar uma experiência menos traumatizante, com melhor bem estar e qualidade de vida.

Castro (2007) explica que a compreensão que a criança tem acerca da doença é um fator importante para sua adaptação ou não. Podendo a criança entender a doença como uma mudança ou perda irreparável, um castigo, uma oportunidade de não ir à escola ou de atrair a atenção dos adultos a sua volta, uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e crescimento, entre outros. Castro (2007) coloca que a criança é a fonte de dados mais confiável sobre si e sobre o que as preocupa. “A doença não fala, o doente sim.” (Mesquita e Cols., 2013, p.92). A recorrência de internações e experiências médicas estressantes pode prejudicar o desenvolvimento emocional, cognitivo, físico e social da criança (Castro, 2007). A reação do paciente está relacionada à sua historicidade (Calvetti e Cols., 2008).


 

REFERÊNCIAS:

 

Andrade, L. B. P. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 193 p. Cap. 02 - Tecendo os fios da infância. Scielo books. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/h8pyf/pdf/andrade-9788579830853-06.pdf> Acesso em: 07 de Novembro de 2018.

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