Disponível na Netflix (2020) |
Recentemente assisti a um
documentário que me foi indicado, intitulado “Professor Polvo”, que relata a
descoberta e relação de um biólogo marinho com um polvo fêmea que foi estudado
por ele e registrado todos os dias durante cerca de um ano. As vozes da minha
cabeça, que trabalham de forma muito peculiar, viram nisso uma metáfora da
relação terapêutica. No início há uma cautela, e o polvo
vai ganhando confiança, aos poucos, para sair de seu esconderijo e interagir com o
mergulhador. Se percebe a empatia do homem com o polvo, a resiliência do polvo
diante dos perigos da vida selvagem e como esses perigos mobilizam o
pesquisador. Entretanto o biólogo tem consciência de que não pode interferir na
natureza, não pode espantar os tubarões, que são predadores do polvo, e também
não pode carregar o polvo ferido para uma área segura, não pode alimentar o
animal fragilizado. Ele observa o desenvolvimento desse polvo e como ele
constrói novas formas, cada vez mais elaboradas, de caçar seu alimento e de se
esconder e enganar os predadores. O polvo é um animal extremamente inteligente,
porém recluso, mas este animal em especial adquiriu uma interação e uma
confiança com este humano, fazendo contato físico, se permitindo ser visto e acompanhado em seu habitat. Uma
cena marcante que me remete a esta grande viagem de pensamentos é quando o
polvo brinca com um cardume de peixes. Também incluo na metáfora o momento que
o polvo se assusta com um movimento inesperado do equipamento de filmagem e
nada rapidamente para se esconder, mas abandona seu esconderijo anterior,
obrigando o pesquisador a rastreá-lo. Podemos considerar que a ligação e a
confiança foram quebradas, porém, quando encontrado, reconhece e recepciona o
mergulhador. Uma resistência, um medo, um regresso no processo, porém ainda há
confiança para reestabelecer e seguir com a relação. O polvo se sente
estimulado pelo novo que o mergulhador representa. Assim como o polvo e o
pesquisador, na relação terapêutica não podemos afastar os perigos que cercam o
cliente (claro, não falando de um contexto de vulnerabilidade e trabalho
social), mas observar o seu desenvolvimento de ferramentas para enfrentar suas
dificuldades. O cliente tem recursos e nós reconhecemos esta capacidade de
crescimento inerente ao acolher sua história com respeito, empatia, aceitação e
congruência.
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