domingo, 11 de abril de 2021

Adoção de Crianças Especiais

 

QUAL É A CONDIÇÃO DO SEU AMOR?


Uma questão sobre o verdadeiro sentido da adoção visando crianças e adolescentes com necessidades especiais.

 


INTRODUÇÃO

Atenta-se para o Cadastro Nacional da Adoção, especificamente para os dados referentes às crianças e adolescentes portadores de doenças ou necessidades especiais, dentre estas as deficiências mentais, deficiências físicas, crianças portadoras de HIV, entre outras doenças detectadas. E também observar os pretendentes a adoção que se disponibilizam a acolher estas crianças, sendo que segundo o Cadastro Nacional da Adoção, mais da metade dos pretendentes somente aceitam crianças sem doenças.

Observamos também no decorrer do projeto que não basta se disponibilizar a adoção deve-se também possuir os recursos necessários para atender as necessidades da criança, que podem abranger casos mais leves e casos mais complexos, dependendo a situação pessoal. Além de disponibilizar de uma demanda de tempo e de muito amor.

Vivemos em uma sociedade onde crianças portadoras de necessidades especiais muitas vezes são deixadas de lado pela família, pela própria deficiência ou por maiores dificuldades, isso leva a abrigos, onde tem uma grande dificuldade de serem adotados. Portadores de necessidades especiais são infantilizados e marginalizados em nossa sociedade. Quando estes são disponibilizados para adoção junto com crianças sem problemas cognitivos ou motores, são deixados de lado pelo estigma de que dariam muito trabalho e que necessitarão de acompanhamento para o resto da vida, em alguns casos é sim necessário, mas há vários exemplos que provam o quão são habilitados a seguir a própria vida e se superar.

E por que não adotar uma criança especial? Ela pode dar amor tanto quanto uma criança sem qualquer deficiência. Muitas vezes essas crianças surpreendem mostrando que sempre podem mais. Essas crianças também merecem uma oportunidade de serem amadas e terem família, mas raramente conquistam essa oportunidade.

 

OBJETIVOS

v  Avaliar a situação geral da adoção no Brasil.

v  Avaliar a situação de crianças com necessidades especiais e de pretendentes a adoção no Brasil.

v  Olhar para as crianças portadoras de alguma necessidade especial que aguardam uma família para adoção.

v  Pontuar as dificuldades e possibilidades de uma adoção especial.

v  Utilizar exemplos de vivencias reais para demonstrar que a adoção especial é possível e pode dar certo.

v  Observar que há vários graus dentre as necessidades especiais, podendo estas serem físicas, mentais, leves ou complexas.

v  Refletir nos motivos para adoção pelos adotantes.

v  Pensar nas necessidades das crianças e adolescentes.

 


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

Dados revelam que a adoção significa a escolha de uma criança com perfil, preferencialmente meninas loiras, recém nascidas e saudáveis. Mesmo reconhecendo isso, estes dados nos mostram uma outra face, o tipo mais raro de adoção: O de crianças com necessidades especiais, que precisam de cuidados também especiais. Apesar das dificuldades que as estatísticas revelam, existem pessoas dispostas a adotá-las e assim revelam a condição do seu amor, proporcionar satisfação, onde se pesam as dificuldades...

A adoção se trata de satisfazer os desejos das pessoas ou encontrar uma família para uma criança abandonada?

“Não se trata mais de dar uma criança ao casal, mas de dar pais a uma criança”. Natalio (2001, p. 38)

Há de ser considerada a expectativa de ambos, pois enquanto para os adultos pretendentes a adoção significa a escolha de uma criança com determinado perfil, para a criança significa uma oportunidade de ter uma família, superar o abandono entre outros fatores emocionalmente significantes. Ter um filho é um conceito diferente de ser mãe e pai.

Schettini Filho (1998) sobre este tema adverte sobre a necessidade de não se usar a criança e analisar o significado da adoção para aquela pessoa que se pretende adotar.

O que se denomina “adoções necessárias” como as inter-raciais, ou de crianças maiores, a chamada adoção tardia, e de crianças com necessidades especiais mostra o quanto é preciso vencer o preconceito da adoção, mesmo aquele comparativo entre filhos adotados e filhos biológicos.

Na tabela do Cadastro Nacional de Adoção sobre crianças com necessidades especiais e pretendentes a adoção dispostos a realizar uma adoção especial é perceptível que há mais adotantes do que crianças aptas a adoção, mas por muitas razões as crianças não chegam a essas famílias, como a burocracia no sistema de adoção de nosso país e as dificuldades de cuidado com alguns casos dentre as crianças especiais. 

Mas afinal, porque adotar uma criança com necessidades especiais?

Niblett (2001) baseando-se em pesquisas realizadas na Inglaterra, apresenta algumas características de famílias que com frequência adotam crianças com necessidades especiais. Elas costumam ter experiências com pessoas deficientes; estão centradas nos filhos; não possuem um nível educacional especialmente elevado; lutam pelos direitos dos filhos; são criativas e inovadoras, ajudando seus filhos a progredir; recebem o apoio dos familiares e amigos; satisfazem-se com cada pequeno avanço do seu filho.

Adotar ou ter um filho com necessidades especiais não é uma questão de bom ou ruim é apenas e tão somente um fato!

Como nas palavras de Col (2003) “um diagnóstico é apenas um diagnóstico, a criança especial é apenas um fato... o que realmente fará a diferença somos nós, os pais, que podemos escrever e reescrever esse script com a qualidade e o valor que quisermos.”

Destaque-se que todas as crianças abandonadas em instituições têm características especiais, que necessitam de cuidados especiais, podem ter sofrido desde maus tratos, até rejeições, abusos, doenças infantis diagnosticadas a posteriori...

“Eu me sinto mãe, só (risos). Eu não me sinto mãe de uma criança com necessidades especiais. Não tem diferença, eu penso. É claro que, às vezes, toda mãe gostaria que seu filho fosse... tivesse bem em tudo. É que a gente vai incorporando isso. Ele é daquele jeito, ele é dessa forma. É dessa forma que a gente o ama. Se ele desenvolver muito, ótimo. Se ele não desenvolver, ótimo também. Ele continua sendo o filho amado da gente.”- Depoimento de mãe de criança especial.

Adotar uma criança seja ela qual for sua necessidade especial é dar a ela uma oportunidade de reinventar-se, superar-se, resignificar-se, desenvolver-se em seu ritmo com suas marcas e sua história, suas características e principalmente uma condição de amor adequado a fazê-la viver com dignidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Pesquisas comprovam que o maior motivo da adoção é porque o adotante não pode ter seu filho biológico, mas há grande diferença entre ter um filho e ser mãe a pai. Não se trata de dar uma criança a uma família, mas sim de dar uma família a uma criança. Adotar é muito mais que um ato de amor, é uma doação, uma entrega, e no caso da criança especial, vai muito além de ajudar uma criança, é um amor especial em todos os sentidos. Quem aceitou adotar crianças especiais relata ser recompensado todos os dias com o sorriso, o amor e as conquistas do filho.

Hoher e Wagner (2006), em pesquisa sobre a adoção de crianças com necessidades especiais avaliaram a orientação dos profissionais para as famílias com os seguintes tópicos: falta de preparação profissional e psicológica dos profissionais; necessidade de que todos da família saibam do diagnóstico; respeito aos momentos de sofrimento e de negação por parte deles; procurar notar as qualidades e não apenas as anormalidades na criança; utilizar linguagem adequada e iniciar o tratamento necessário o mais cedo possível.

Quem pretende aceitar o desafio de adotar uma criança ou adolescente portador de necessidades especiais deve avaliar tudo o que envolve este ato, se terá condições financeiras para atender suas necessidades, caso esta precise de consultas regulares com especialistas, medicação, fisioterapia, fonoaudióloga, consultas psicológicas e psiquiátricas, educação especial... Também pode considerar o aspecto cultural que envolve o olhar da sociedade para esta adoção; se está preparado, se tem a estrutura necessária, se poderá atender a demanda de tempo desta criança. As necessidades especiais abrangem de casos mais leves a casos mais complexos e cada criança é diferente, mas todas as crianças são especiais, e uma grande recompensa é perceber o sorriso, o olhar e a expressão de gratidão deste filho especial para cada mãe e cada pai que enfrentam as dificuldades com um sentimento que vai alem do amor incondicional.

"Não acho que exista diferença em ser filha adotiva. Uma pessoa pode ter nascido da barriga e outra ter sido adotada e o amor é o mesmo. O mais importante é a gente ter o carinho da mãe. Tem gente que fica me perguntando como é ser filha adotiva, se é ruim. Eu digo que não tem nada a ver, que o amor é igual (ou pode ser melhor!) e que a gente tem muita sorte de ter uma família porque tem muitas crianças que ficam a vida toda em orfanatos. Isso é triste. Eu me sinto uma criança bem normal e... feliz!...” Claudia (nome fictício) 9 anos, depoimento de criança adotada.

 

Segundo o dicionário adoção é o: processo ou ação judicial que se define pela aceitação espontânea de alguém como filho(a), respeitando as condições jurídicas necessárias. Ação ou efeito de adotar, tomar para si com cuidados. A palavra adoção tem origem do latim "adoptio", que significa "tomar alguém como filho".

A presente pesquisa e o embasamento teórico que trata do tema apresentado possibilitaram responder grande parte das questões que foram levantadas no decorrer do presente trabalho. Os dados apontaram as preferências dos adotantes por crianças menores e sem qualquer deficiência. Também analisamos os motivos que levam a uma maior preferência por estas crianças, este fator está ligado à crença de que crianças maiores ou com alguma deficiência podem levar consigo maus hábitos ou algum problema mais grave devido a suas limitações.

Importante também observar que tanto na adoção de crianças especiais ou na adoção tardia quanto na adoção convencional, as chances de sucesso ou fracasso no meio familiar dependem de suporte, amor, confiança, companheirismo, entrega e trocas afetivas mutuas. Toda a criança que se encontra na espera para adoção tem um histórico de abandono e tal fato deve ser levado em consideração, porém indiferente de idade ou limitações todas as crianças merecem e precisam de uma nova chance, de uma família dedicada que lhes de apoio, precisam acima de tudo se sentirem aceitos e amados para que seja possível a adaptação e a reconstrução de sua história de vida.

Para cada criança na fila de adoção há cerca de seis famílias interessadas, mas a maioria tem preferência por crianças pequenas, de até 5 anos de idade, meninas, brancas e saudáveis. Sendo que não é esta a maioria de crianças aptas a adoção, e sim meninos negros e mais velhos. Quando a criança tem alguma doença ou deficiência se torna mais difícil para aquela criança que mais precisa de cuidado e carinho ter uma família. Não é fácil, mas não é impossível! O adotante deve avaliar o real motivo e significado de estar realizando uma adoção, e se dispor de recursos, se questionar: Qual é a condição do seu amor?

 

Dados de janeiro de 2021





REFERÊNCIAS

 

Cadastro Nacional de Adoção <http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf>  Acesso em 03 de novembro de 2016.

 

Fonte Dep. I,II,III: WEBER, Lidia. Filhos Adotivos, Pais Adotados: Depoimentos e Histórias de Escolhas. Editora Santa Mônica. Curitiba, Paraná. 2007. Acesso em 30/08/2016.

 

Fonte Dep. V, VI: FONSECA, Célia. SANTOS, Carina. DIAS, Cristina. A adoção de crianças Especiais na Perspectiva dos Pais Adotivos. Artigo Acadêmico da Universidade Católica de Pernambuco, publicado em Scielo.com. Recife, Pernambuco. 2009. Acesso em 30/08/2016.

 

Fonte: Natalio, H. (2001). Um sentido para a vida. In F. Freire (Org.), Abandono e adoção: Contribuições para uma cultura da adoção III (pp. 37-39.) Curitiba: Terra dos Homens.

 

Fonte: Hoher, S. P., & Wagner, A. D. L. (2006). A transmissão do diagnóstico e de orientações a pais de crianças com necessidades especiais: A questão da formação profissional. Estudos de Psicologia (Campinas), 23, 113- 125.

 

Artigo: A adoção de crianças com necessidades especiais na perspectiva dos pais adotivos.<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2009000300004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em 03 de setembro de 2016.

 

Artigo: A Adoção De Crianças Com Necessidades Especiais.

<http://www.webartigos.com/artigos/a-adocao-de-criancas-com-necessidades-especiais/41128/> Acesso em 03 de setembro de 2016.

 

Vídeo: adoção de crianças especiais < https://www.youtube.com/watch?v=yjAtDmcqgAE> Acesso em 13 de setembro de 2016.



 

Vídeo: A Adoção de Criança Especial <https://www.youtube.com/watch?v=XUqXI1XOnA0> Acesso em 13 de setembro de 2016

 


Vídeo: Programa Ver Mais - Maringá - Adoção Especial

<https://www.youtube.com/watch?v=XUqXI1XOnA0> Acesso em 03 de setembro de 2016.


Vídeo: (X) Não faz restrição - Um retrato da Adoção Tardia e Especial

<https://www.youtube.com/watch?v=kkVsOSHFxPs> Acesso em 03 de setembro de 2016.


Vídeo: Programa Papo de Mãe sobre a Adoção Especial

<http://tvbrasil.ebc.com.br/papodemae/episodio/adocao-especial> Acesso em 06 de setembro de 2016.

 

Noticia: Jornal Nacional – Aumenta a adoção de crianças especiais e com mais de 3 anos. <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/05/aumenta-adocao-de-criancas-especiais-e-com-mais-de-3-anos.html> Acesso em 03 de outubro de 2016.

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