Hayashida,
N. M. A; Assayag, R. H; Figueira, I; & Matos, M. G. (2014). Morte e Luto:
competências dos profissionais. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas.
10(2). P.112-121.
O artigo “Morte e Luto: competências dos profissionais” busca
trazer uma discussão sobre a importância de falar sobre a morte e de haver uma
melhor educação e preparação dos profissionais que lidam com a morte e o luto.
Morte é algo que leva a tristeza, a auto-reflexão, a um evitamento sobre o
tema. Basso & Waider (2011) colocam que a morte ainda é vista como um tabu,
cercada de mistérios e de crenças. As pessoas não se encontram preparadas para
lidar com a finitude humana. Essa fuga do tema da morte caracteriza uma
tendência social a fugir da velhice, que representaria a própria finitude.
Falar o que pensa em relação à morte pode fortalecer o indivíduo e fornece
chances de lidar com a morte e o luto de forma saudável e adequada.
No presente artigo foi estudada a forma de lidar com os processos
da morte nos diferentes ciclos de vida. Verificou-se mais dificuldade quando se
tratando de crianças, adolescentes ou jovens adultos, pessoas no inicio ou no
auge da vida, em comparação aos idosos. A adultez é a etapa da vida aonde se
realizam muitos projetos e há mais responsabilidades, na morte nesta etapa da
vida pode haver identificação do profissional de saúde com a pessoa falecida,
caso o profissional se encontre no mesmo estágio da vida, o que desperta nele
as concepções que tem acerca da própria morte. Verificou-se que quanto maior o
tempo de atuação profissional, mais fácil lidar com a morte, entretanto, é
difícil a todos os profissionais quando se trata de paciente criança ou
adolescente em sofrimento, ou morte trágica e abrupta. Quando a morte acontece
inesperadamente, como acidentes ou suicídio, a família encontra-se mais
desorganizada, pois tem a necessidade de estruturar o cotidiano de forma
totalmente nova e desconhecida. A morte da pessoa idosa geralmente se trata de
uma perda gradativa e significativa, que desperta um luto antecipado e
complicado, com sobrecarga, falta de recursos pessoais e materiais, delegação
de cuidados e sentimentos complexos como a culpa.
Os avanços científicos e da medicina permitem ao homem desafiar a
morte desenvolvendo a cura de várias doenças, prevenindo ou tratando-as,
entretanto jamais conseguiu evitar a finitude, sendo a morte algo que não pode
ser vencido. Estudantes e profissionais tem preparo insuficiente para lidar com
a experiência humana de morte, há uma ausência da temática do processo de
morrer e da morte na formação profissional. Isso pode despertar sentimentos de
angustia, ansiedade, estresse, sofrimento psíquico, depressão, culpa, fracasso,
impotência, frustração, tristeza e burnout. Muitos profissionais que se
confrontam regularmente com o fenômeno difícil e complexo da morte e do morrer,
percebem-se despreparados para lidar com as questões de finitude, tendo uma
visão de que morte é sinônimo de fracasso e impotência. No caso do trabalhador
da saúde a morte de pacientes pode despertar pensamentos sobre sua própria
morte ou de familiares. Segundo Silva (2012) os profissionais da saúde são
preparados para cuidar do outro a fim de que o outro fique bem, mas poucos
aprendem a auxiliar no processo de morte, e na elaboração do luto.
Seria de grande contribuição um aumento das discussões sobre os
temas acerca de morte e luto, com palestras, projetos, vivências e rodas de
conversa na formação dos profissionais. Tendo uma abordagem biopsicossocial,
dando atenção ao emocional, social, espiritual e físico do sujeito. Também se
destaca a importância de uma maior educação para a morte com adequada formação
acadêmica, conhecimentos acerca dos cuidados paliativos, atenção na comunicação
sobre a morte e o morrer, cuidado das emoções e sentimentos dos profissionais,
respeito à subjetividade e criação de adequados espaços de fala para que os
profissionais possam se expressar sobre o que pensam e sentem em relação à
temática da morte. Não apenas profissionais da saúde, mas também outros
profissionais que lidam direto com a morte, como coveiros e agentes funerários.
A desmistificação do tema da morte e do luto e o reconhecimento das crenças
acerca do tema auxiliam os profissionais a conviver melhor com esta realidade.
Podendo prestar melhor auxílio aos pacientes que não respondem mais ao
tratamento de cura, permitindo à equipe aceitar melhor seus próprios limites de
intervenção e fornecer adequados cuidados paliativos para uma morte sem
sofrimentos.
Uma das atribuições do profissional se refere a fornecer suporte
emocional aos familiares que elaboram seu processo de luto. Validando os
sentimentos e emoções do enlutado ao compreendê-los, ouvi-los, apoiá-los,
dando-lhes um sentimento de amparo. Silva (2012) expõem que a postura adequada
de um profissional que lida com estes eventos é a empatia caracterizada pela
capacidade de prestar atenção, ouvir e verbalizar de forma sensível. Silva
(2012) ainda comenta que apenas 7% dos pensamentos são transmitidos por
palavras, portanto a disposição para ouvir substitui o falar, em um momento
aonde o mais adequado é acolher o sofrimento, as dúvidas e reflexões do outro.
Destaca-se a importância de comunicar a verdade sempre a pacientes
e famílias, dando um real prognostico, respeitando assim o direito de autonomia
e de decisão, permitindo também um maior apoio e consciência da realidade. É
necessário o fornecimento das informações necessárias sobre a doença, embasadas
na verdade, evitando distorções da informação. Silva (2012) coloca que as
verdades devem ser ditas, mas respeitando o limite do outro de querer ou não
ouvi-las. “As pessoas precisam da verdade durante toda a vida, não apenas no
fim dela, por respeito, para poderem desenvolver sua autonomia e arbítrio. Por
essa razão receber más notícias faz parte da nossa vida” (Silva, 2012, p. 52).
Destaca-se a importância de criar um espaço no ambiente de
trabalho para a discussão acerca da morte, com o objetivo de fornecer aos
profissionais mais ferramentas para lidar com esse fato. Busca-se conversar
sobre a expressão dos sentimentos, a elaboração do luto, desmistificando as
crenças disfuncionais sobre a morte, tendo uma atitude que não a interdição.
Mostra-se a importância de falar sobre o tema, ao invés de negá-lo. Entretanto
há dificuldades na comunicação, condicionada pelas emoções da equipe de saúde.
Também se destaca a falta de preparação que os trabalhadores sentem e
expressam, devido às deficiências em sua formação acadêmica e falta de espaços
adequados para a partilha dos sentimentos ou preocupações.
Expõe-se também as alterações sociais e culturais, expressas por
meio do aumento do número de óbitos em contexto institucional. Cultura que
evita falar da morte como gostaria de evitar a morte. O que, de acordo com
Silva (2012) também permite questionamentos sobre uma sociedade aonde as
pessoas morrerem sozinhas, muitas vezes rodeadas de tubos e máquinas. A
institucionalização da morte tira a subjetividade dos indivíduos, despindo-os
de sua identidade e transformando-os em objetos, números, doenças, casos. Monteiro et. al. (2017) expressa que a
situação de morte institucionalizada, como nos casos das Unidades de terapia
Intensiva (UTI) pode desencadear situações estressoras e ansiogênicas, devido a
fatores como: “impessoalidade do ambiente, a solidão e o isolamento facilitados
pela restrição do horário de visitas, o prognóstico incerto ou desfavorável, a
falta de informação adequada, o medo da morte, do sofrimento físico e psíquico
do paciente e a falta de privacidade e individualidade” (p. 1286).
De acordo com Basso & Waider (2011) por algum tempo, a morte
foi considerada como natural do ser humano, sendo tranquila e resigna¬da. Na
Idade Média, a morte era vista com tranqui¬lidade, era um acontecimento
familiar, frequente, por isso, considerada um fato natural. Com o passar do
tempo, embora a morte fosse vista como cotidiana, passou a ser percebida como
um fracasso do morto em relação à vida, salientando a impotência do homem
diante dela. Com as mudanças sociais e culturais, a morte passou a ser afastada
do cotidiano, aos pacientes é um fato omitido, e para a sociedade é
caracterizada pelo silêncio. A morte atualmente é um fenômeno que gera medo e
pode desencadear uma sensação de fragilidade, não só para quem está morrendo,
mas também para os familiares e amigos. É vista como um tabu, cercada por
mistérios, crenças. Gera muita negação, sendo um tema obscuro e encoberto,
entretanto é um assunto do qual não se pode fugir, pois a morte sempre está
presente na vida (Basso & Waider, 2011).
REFERÊNCIAS:
Basso, L. A;
& Wainder, R. (2011). Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia
Cognitivo-Comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas 2011 •7(1)
• pp. 35-43
Monteiro, M.
C; Magalhães, A. S; & Machado, R. N. (2017). A Morte em Cena na UTI: A
Família Diante da Terminalidade. Temas em Psicologia – Setembro 2017, Vol. 25,
nº 3, 1285-1299
Silva, M. J.
P. (2012). Comunicação de Más Notícias. O Mundo da Saúde, São Paulo -
2012;36(1):49-53.
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