quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Análise Crítico Reflexiva: Morte e Luto

 

Hayashida, N. M. A; Assayag, R. H; Figueira, I; & Matos, M. G. (2014). Morte e Luto: competências dos profissionais. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 10(2). P.112-121.

 


O artigo “Morte e Luto: competências dos profissionais” busca trazer uma discussão sobre a importância de falar sobre a morte e de haver uma melhor educação e preparação dos profissionais que lidam com a morte e o luto. Morte é algo que leva a tristeza, a auto-reflexão, a um evitamento sobre o tema. Basso & Waider (2011) colocam que a morte ainda é vista como um tabu, cercada de mistérios e de crenças. As pessoas não se encontram preparadas para lidar com a finitude humana. Essa fuga do tema da morte caracteriza uma tendência social a fugir da velhice, que representaria a própria finitude. Falar o que pensa em relação à morte pode fortalecer o indivíduo e fornece chances de lidar com a morte e o luto de forma saudável e adequada.

No presente artigo foi estudada a forma de lidar com os processos da morte nos diferentes ciclos de vida. Verificou-se mais dificuldade quando se tratando de crianças, adolescentes ou jovens adultos, pessoas no inicio ou no auge da vida, em comparação aos idosos. A adultez é a etapa da vida aonde se realizam muitos projetos e há mais responsabilidades, na morte nesta etapa da vida pode haver identificação do profissional de saúde com a pessoa falecida, caso o profissional se encontre no mesmo estágio da vida, o que desperta nele as concepções que tem acerca da própria morte. Verificou-se que quanto maior o tempo de atuação profissional, mais fácil lidar com a morte, entretanto, é difícil a todos os profissionais quando se trata de paciente criança ou adolescente em sofrimento, ou morte trágica e abrupta. Quando a morte acontece inesperadamente, como acidentes ou suicídio, a família encontra-se mais desorganizada, pois tem a necessidade de estruturar o cotidiano de forma totalmente nova e desconhecida. A morte da pessoa idosa geralmente se trata de uma perda gradativa e significativa, que desperta um luto antecipado e complicado, com sobrecarga, falta de recursos pessoais e materiais, delegação de cuidados e sentimentos complexos como a culpa.

Os avanços científicos e da medicina permitem ao homem desafiar a morte desenvolvendo a cura de várias doenças, prevenindo ou tratando-as, entretanto jamais conseguiu evitar a finitude, sendo a morte algo que não pode ser vencido. Estudantes e profissionais tem preparo insuficiente para lidar com a experiência humana de morte, há uma ausência da temática do processo de morrer e da morte na formação profissional. Isso pode despertar sentimentos de angustia, ansiedade, estresse, sofrimento psíquico, depressão, culpa, fracasso, impotência, frustração, tristeza e burnout. Muitos profissionais que se confrontam regularmente com o fenômeno difícil e complexo da morte e do morrer, percebem-se despreparados para lidar com as questões de finitude, tendo uma visão de que morte é sinônimo de fracasso e impotência. No caso do trabalhador da saúde a morte de pacientes pode despertar pensamentos sobre sua própria morte ou de familiares. Segundo Silva (2012) os profissionais da saúde são preparados para cuidar do outro a fim de que o outro fique bem, mas poucos aprendem a auxiliar no processo de morte, e na elaboração do luto.

Seria de grande contribuição um aumento das discussões sobre os temas acerca de morte e luto, com palestras, projetos, vivências e rodas de conversa na formação dos profissionais. Tendo uma abordagem biopsicossocial, dando atenção ao emocional, social, espiritual e físico do sujeito. Também se destaca a importância de uma maior educação para a morte com adequada formação acadêmica, conhecimentos acerca dos cuidados paliativos, atenção na comunicação sobre a morte e o morrer, cuidado das emoções e sentimentos dos profissionais, respeito à subjetividade e criação de adequados espaços de fala para que os profissionais possam se expressar sobre o que pensam e sentem em relação à temática da morte. Não apenas profissionais da saúde, mas também outros profissionais que lidam direto com a morte, como coveiros e agentes funerários. A desmistificação do tema da morte e do luto e o reconhecimento das crenças acerca do tema auxiliam os profissionais a conviver melhor com esta realidade. Podendo prestar melhor auxílio aos pacientes que não respondem mais ao tratamento de cura, permitindo à equipe aceitar melhor seus próprios limites de intervenção e fornecer adequados cuidados paliativos para uma morte sem sofrimentos.

Uma das atribuições do profissional se refere a fornecer suporte emocional aos familiares que elaboram seu processo de luto. Validando os sentimentos e emoções do enlutado ao compreendê-los, ouvi-los, apoiá-los, dando-lhes um sentimento de amparo. Silva (2012) expõem que a postura adequada de um profissional que lida com estes eventos é a empatia caracterizada pela capacidade de prestar atenção, ouvir e verbalizar de forma sensível. Silva (2012) ainda comenta que apenas 7% dos pensamentos são transmitidos por palavras, portanto a disposição para ouvir substitui o falar, em um momento aonde o mais adequado é acolher o sofrimento, as dúvidas e reflexões do outro.

Destaca-se a importância de comunicar a verdade sempre a pacientes e famílias, dando um real prognostico, respeitando assim o direito de autonomia e de decisão, permitindo também um maior apoio e consciência da realidade. É necessário o fornecimento das informações necessárias sobre a doença, embasadas na verdade, evitando distorções da informação. Silva (2012) coloca que as verdades devem ser ditas, mas respeitando o limite do outro de querer ou não ouvi-las. “As pessoas precisam da verdade durante toda a vida, não apenas no fim dela, por respeito, para poderem desenvolver sua autonomia e arbítrio. Por essa razão receber más notícias faz parte da nossa vida” (Silva, 2012, p. 52).

Destaca-se a importância de criar um espaço no ambiente de trabalho para a discussão acerca da morte, com o objetivo de fornecer aos profissionais mais ferramentas para lidar com esse fato. Busca-se conversar sobre a expressão dos sentimentos, a elaboração do luto, desmistificando as crenças disfuncionais sobre a morte, tendo uma atitude que não a interdição. Mostra-se a importância de falar sobre o tema, ao invés de negá-lo. Entretanto há dificuldades na comunicação, condicionada pelas emoções da equipe de saúde. Também se destaca a falta de preparação que os trabalhadores sentem e expressam, devido às deficiências em sua formação acadêmica e falta de espaços adequados para a partilha dos sentimentos ou preocupações.

Expõe-se também as alterações sociais e culturais, expressas por meio do aumento do número de óbitos em contexto institucional. Cultura que evita falar da morte como gostaria de evitar a morte. O que, de acordo com Silva (2012) também permite questionamentos sobre uma sociedade aonde as pessoas morrerem sozinhas, muitas vezes rodeadas de tubos e máquinas. A institucionalização da morte tira a subjetividade dos indivíduos, despindo-os de sua identidade e transformando-os em objetos, números, doenças, casos.  Monteiro et. al. (2017) expressa que a situação de morte institucionalizada, como nos casos das Unidades de terapia Intensiva (UTI) pode desencadear situações estressoras e ansiogênicas, devido a fatores como: “impessoalidade do ambiente, a solidão e o isolamento facilitados pela restrição do horário de visitas, o prognóstico incerto ou desfavorável, a falta de informação adequada, o medo da morte, do sofrimento físico e psíquico do paciente e a falta de privacidade e individualidade” (p. 1286).

De acordo com Basso & Waider (2011) por algum tempo, a morte foi considerada como natural do ser humano, sendo tranquila e resigna¬da. Na Idade Média, a morte era vista com tranqui¬lidade, era um acontecimento familiar, frequente, por isso, considerada um fato natural. Com o passar do tempo, embora a morte fosse vista como cotidiana, passou a ser percebida como um fracasso do morto em relação à vida, salientando a impotência do homem diante dela. Com as mudanças sociais e culturais, a morte passou a ser afastada do cotidiano, aos pacientes é um fato omitido, e para a sociedade é caracterizada pelo silêncio. A morte atualmente é um fenômeno que gera medo e pode desencadear uma sensação de fragilidade, não só para quem está morrendo, mas também para os familiares e amigos. É vista como um tabu, cercada por mistérios, crenças. Gera muita negação, sendo um tema obscuro e encoberto, entretanto é um assunto do qual não se pode fugir, pois a morte sempre está presente na vida (Basso & Waider, 2011).

 


REFERÊNCIAS:

Basso, L. A; & Wainder, R. (2011). Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas 2011 •7(1) • pp. 35-43

Monteiro, M. C; Magalhães, A. S; & Machado, R. N. (2017). A Morte em Cena na UTI: A Família Diante da Terminalidade. Temas em Psicologia – Setembro 2017, Vol. 25, nº 3, 1285-1299

Silva, M. J. P. (2012). Comunicação de Más Notícias. O Mundo da Saúde, São Paulo - 2012;36(1):49-53.

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário