Macedo,
J. P., & Dimenstein, M. (2016). Efeitos do saber-fazer de psicólogos na
saúde mental do Piauí. Revista de
psicologia, 28(1), 37-45.
No
artigo “Efeitos do saber-fazer de psicólogos na saúde mental do Piauí”, Macedo
e Dimenstein (2016), buscam realizar uma analise sobre os saberes e práticas
dos psicólogos que atuam na rede de saúde mental. Objetivando compreender as
percepções e intervenções, que embasam as compreensões e estratégias de ação
dos psicólogos desta área, e os possíveis efeitos destas escolhas. Respondendo
ao questionamento: “Os psicólogos têm articulado, em suas práticas
profissionais, atuações que conjugam ação técnica e ação política?” Para tanto
foi feito um estudo qualitativo exploratório com observações e entrevista semi
estruturada com 82 psicólogos atuantes na saúde pública, abrangendo os três
níveis de complexidade do SUS. No presente estudo se destacaram como meios de
intervenção as abordagens clínicas, humanistas e fenomenológicas,
psicanalíticas, cognitivo-comportamentais e corporais.
Nesta
pesquisa foi verificado o pouco conhecimento teórico e prático na área. Em
geral, os cursos preparam pouco, tendo um caráter predominantemente clínico da
formação com práticas tradicionais, foco no individual e no intrapsicológico.
Ainda predomina o modelo de atuação clássico da psicologia clínica, que é pouco
harmonioso com a perspectiva da atenção biopsicossocial. Esta considera fatores
políticos, culturais, econômicos, espirituais, ambientais, territoriais, entre
outros, como determinantes do sofrimento psíquico. Tirando foco do binômio
doença e loucura, que vê determinantes orgânicos como principais causadores e
leva á uma ideia de cura, como no modelo biomédico de atuação.
Castro
e Bornholdt (2004) colocam sobre a graduação deficitária do profissional de
psicologia, pois a formação não fornece as bases necessárias para esta prática.
Não falta apenas teoria e técnica, mas também comprometimento com o social e
preparação para ocupar-se dos problemas de saúde existentes em sua região e ter
atuação multiprofissional.
Ainda
se busca as transformações que ocorrem lentamente após o movimento de reforma
psiquiátrica, como a desinstitucionalização do sujeito, e seu protagonismo, na
tentativa de construir um novo lugar para a doença mental na sociedade.
Supressão dos sintomas através de hospitalização e medicalização objetificam o
paciente, cujo os saberes envolvidos encontram-se hierarquizados pelo modelo
biomédico. A medicalização da vida cotidiana anula o sujeito. Não se trata só a
doença, mas o individuo como um todo, e sua rede de apoio e acolhimento.
Entretanto,
com a implantação tardia e crescimento rápido dos cursos de psicologia e dos
profissionais no mercado, se verifica que o psicólogo, muitas vezes, permanece
no papel de identificar patologias e estimular a adesão ao tratamento
medicamentoso, visando remissão de sintomas, estabilidade emocional e afetiva
do paciente e reestruturação psíquica. Sendo muito comum o atendimento
individual com base no modelo psicoterapêutico, e raro o trabalho em equipe. Os
currículos dos cursos de psicologia já trazem mais sobre a prevenção e a
promoção da saúde para maior qualidade de vida do sujeito, porém ainda tem
ênfase no diagnostico e na resolução de problemas comportamentais, de
personalidade ou afetivos. Observou-se que os psicólogos se mostravam
comprometidos com saberes e práticas que legitimam socialmente a psicologia
enquanto profissão, em detrimento de praticas de atenção psicossocial.
Castro e Bornholdt (2004) dissertam que o foco
da formação do psicólogo está basicamente no tratamento individual e no modelo
clínico, que é a base da sua identidade profissional. Mas, em contraponto, há
uma grande demanda de trabalho na área da saúde pública, o que acarreta em
profissionais mal preparados trabalhando com o antigo modelo clínico individual
no contexto sanitário, sem ter o conhecimento necessário para a atuação
multidisciplinar, de intervenção, promoção e prevenção. Neste âmbito é mais
produtivo realizar trabalhos grupais. Ainda segundo Castro e Bornholdt (2004),
o psicólogo simplesmente adapta o modelo clinico tradicional para o âmbito da
saúde, por não saber ao certo sobre suas tarefas e seu papel dentro do sistema.
O próprio serviço também não sabe o que esperar deste profissional, que acaba
por descobrir que sua estratégia não funciona como o esperado, e gera duvidas
quanto a sua efetividade e eficácia. Expõem- se que as experiências mal
sucedidas por psicólogos na saúde se dão devido ao distanciamento da realidade
e da inadequada assistência mascarada por um falso saber.
A
formação do psicólogo é deficitária no que se refere aos conhecimentos da
realidade sanitária do Brasil. A formação elitista não habilita o aluno e o
profissional para lidar com o sofrimento físico que anda junto com o sofrimento
psíquico, distancia das reais demandas existentes, com a injustiça social,
fome, violência e miséria (Castro & Bornholdt, 2004). Há uma grande
discrepância entre as propostas da psicologia e a realidade brasileira. Em
vários estudos aparece uma formação acadêmica insuficiente, que não condiz com
a prática profissional do psicólogo da saúde, sendo esta diferente do fazer
clínico tradicional em consultório privado (Castro & Bornholdt, 2004).
Besteiro
e Barreto (2003) apud Castro e Bornholdt (2004) colocam que a formação do
psicólogo para trabalhar na área da saúde deve contemplar conhecimentos sobre
as bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença. Além de
avaliação, assessoramento e intervenção em saúde, políticas e organização de
saúde e colaboração interdisciplinar. Importante também que se tratem temas
profissionais, éticos e legais e conhecimentos de metodologia e pesquisa em
saúde.
Macedo
e Dimenstein (2016) Apontaram também que houve uma grande ampliação da rede de
serviço, mas com poucos avanços, sendo ainda um desafio a implementação da cultura
interprofissional e multidisciplinar, e do trabalho em equipe na atenção
psicossocial e saúde coletiva. Verifica-se que se faz necessária a criação de
novas perspectivas de cuidado e real trabalho interdisciplinar. Também foi
indicada a ausência da articulação da rede junto à população e entre os
serviços. Desde a década de 40, há uma supremacia da instituição hospitalar no
que diz respeito à saúde da população. Entretanto, trata-se de um modelo que
prioriza as ações de saúde na atenção secundária, ou seja, um modelo clínico e
assistencialista. O que deixa preteridas as ações de saúde coletiva, que dizem
respeito ao modelo sanitarista (Castro & Bornholdt, 2004).
A
psicologia vem saindo do tradicional campo clínico e abrangendo suas ações para
outras áreas, de maior alcance. A psicologia da saúde é um campo de estudo
relativamente novo, que vem ganhando espaço de atuação, sendo cada vez mais
estudada e difundida. Entretanto, observa-se que os campos de saberes são ainda
bastante homogêneos, fundamentalmente ancorados no campo da psicologia e
psiquiatria tradicionais. A psicologia alcançou a legitimidade do saber
científico, porém não pode perder de vista o humano, sendo uma prática
essencial à saúde da sociedade.
O
fazer do psicólogo que trabalha com Psicologia da Saúde é um desafio,
principalmente no Brasil, onde as demandas regionais são muito diversas. Porém,
no artigo, observa-se que o local, a população e as necessidades são
diferentes, entretanto, as ferramentas teóricas e praticas e intervenção são as
mesmas. O saber fazer clássico da profissão ainda é hegemônico. A falta de
conhecimento sobre Psicologia da Saúde na graduação faz com que muitos
psicólogos que trabalham nessa área atendam clinicamente visando o individual e
o ajustamento de condutas.
É
importante, e parte da atuação do psicólogo no serviço de saúde, poder
estimular o usuário do serviço a gerenciar sua vida, aumentar sua capacidade de
escolha, estabelecer relações e projetos para o futuro, adquirir autonomia e
maior cidadania, empoderando-o de sua própria história e estabelecendo relações
que produzam menos subjetividades empobrecidas ou anuladas. Sendo o psicólogo,
mobilizador de ações que contribuam com o processo de cuidado e reinserção
social do sujeito e de sua família na comunidade.
Referências:
Castro, E. K., & Bornholdt, E.
(2004). Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e
Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia
Ciência e Profissão, 24 (3), 48-57
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